sexta-feira, 2 de julho de 2010

Sabores de outros tempos 1


Quando eu era criança, num tempo em que o mesmo era infinito, a “sesta” não fazia qualquer sentido, mas era obrigatória. Suspeito que tenha sido esta dura realidade que despertou o meu espírito revolucionário. Mas esse é um assunto muito complexo. Deitada na cama da mãe sem um pingo de sono olhava a enorme janela que aberta de par em par exibia o imponente abacateiro da Dona Aurora. Durante anos, eu, na hora da “sesta”, jogava com o sr abacateiro, primeiro vinha a flor tão discreta que me obrigava a uma atenção redobrada, depois o fruto, inicialmente minúsculo e sempre da cor da folha ora era ora não era, crescia, brilhava, era nesta altura que eu escolhia - é aquele!. Saltava o muro e apanhava o maldito, e não é que tinham um sabor único, os abacates do abacateiro da D Aurora.